hormônios



Quem é essa mulher
que em meu corpo apareceu?
Serei ela?
Ou será eu?




transformação


Transformação é minha liberdade
E ser mulher é meu itinerário.
Não sinto falta nem sinto saudade
Do homem triste que ficou no armário.




trissexual


No começo deste ano
Fiquei louca por um mano.
Mas minha porção felina
Só pensava numa mina.
Foi assim que veio à tona
Meu amor por outra mona.




fobia


Nunca fui muito segura
Assumo aqui nesta data
Eu tenho medo de altura
Tenho medo de barata

Não entro em elevador
Eu me sinto sem saída
De tanto medo do amor
Nunca entro em tua vida




transfobia


Tem gente tão imbecil
Cujo coração vazio
O fel do ódio resgata

E se enchem de alegria
Quando morre a fantasia
Quando morre uma Renata




a volta


Quando eu voltar pro meu eu,
vou dançar a noite inteira.
Eu vou ser bem mais feliz.
Vou ser bem mais verdadeira.

Quando eu voltar pro meu eu,
tudo vai ser diferente.
Vai ter estrela no céu.
Eu vou estar mais presente.

Eu vou ficar numa boa.
A solidão vai ter fim.
Eu vou ser outra pessoa.
Não vou ficar triste assim.
Quando eu voltar pro meu eu,
pra bem pertinho de mim.




bombadeira


Bomba, bomba, bombadeira.
Transforma o nosso Brasil.
Bomba o mundo, a Terra inteira.
Faz peito, bunda e quadril.

Na loucura de ser mona,
Todas querem bombação.
Bomba, bombinha, bombona.
Bombado é meu coração.




terapeuta


Lá vai o meu terapeuta
pelo vazio do hospital.
Com mestrado em travesti,
fez doutorado em Madri,
doutor em transexual.

Mas quem é esse grande doutor
que conhece tão bem nossa luta?
Será que ele usa batom?
Será que ele já fez a puta?




cigarro


cigarro pra fazer poema
cigarro pra ficar na cama
cigarro depois do cinema
cigarro se ninguém me ama

cigarro porque eu sou ansiosa
cigarro porque eu sou aflita
cigarro porque eu sou nervosa
cigarro porque eu sou bonita

cigarro pra perder o medo
cigarro pra sair do carro
cigarro pra contar segredo
cigarro pra comprar cigarro




a gente


No vingar da vida
De semente forte a gente se origina:
É que a gente germina.

No correr da vida
Sob a luz do sol a gente se estrutura:
É que a gente perdura.

No nadar da vida
Sobre o mar azul a gente se desdobra:
É que a gente soçobra.

Para com a vida
Relações de morte a gente estabelece:
É que a gente fenece.